Ensaio Sensual, casual e temático

Eliana Batista

Despir-se

É difícil
Despir-se
Na frente da lente
Para quem nos olha
Por trás das câmeras

É difícil
Despir-se
Diante de um mundo
Carregado de pudores
Que não nos representam

É difícil
Despir-se  dos nossos medos
Do receio de ser vista
Por uma camada externa
Que da gente só a metade revela

É  difícil  despir-se  
E encarar  nosso corpo  que quase nu, se fragiliza,  quase nu, fica vulnerável,  quase nu, teme a entrega, mas, quase nu, também nos transforma...

Despir-se é  mutação
É possibilidade de desfazer-se das múltiplas camadas que as roupas nos impõe,
de tecidos e papéis  socais que compõem as nossas máscaras.

Despir-se, assim, é  como se esvaziar
Dos medos que nos forjaram
Dos julgamentos que nos dispensam
Dos códigos  morais que nos impõe

Despir-se é  se libertar
Da imagem  dos corpos irreais e inalcansáveis.
Da violência  simbólica que mutila nosso psicológico cotidianamente.

Despir-se, assim, é  uma espécie  de força,
De audácia
De desafio
De deboche
De afronta
De rebeldia
De atrevimento
É reconhecer  que o amor próprio  passa por aceitar  a imagem projetada em nossos espelhos e os detalhes capturados pelo registro fotográfico, muitas vezes escondidos  até do próprio  olhar.

Despir-se é discernimento entre  aparência e essência. É  autoconhecimento.

Para quem na vida busca asas e não  gaiolas, despir-se é  um ato de coragem.

Coragem  de escolher  entre ser menina e mulher
Meiga e sensual
Tudo ou nada
É escolher tomar as rédeas  do próprio  corpo
E negar  qualquer  caminho  
Que não  o da liberdade.

Sóbria  ou inebriada pelo vinho ou pela magia do momento,
despir-se é  redescobrir-se, é renascer , é  revelar. Hfotografiarevelar.
Eliana Batista
13.08.24