SUELLEN LIMA

Fiar

Tanta vontade de viver, me descobrir por trás das sombras, dos medos das pontes e escaladas.

Desprender os pés atolados na boca do medo...

Aprender a voar  com o meu peso,  continuar a planar, cantar com a alma e dizer com o corpo inteiro.

Sentir o peito leve e a mão segura.

Tirar tantas cascas que sejam e depois olhar nos olhos do tempo, do velho e da criança brincando com as horas feitas pelo homem.

Confiar, fiar no tempo uma colcha de retalhos quentinha para cobrir o próprio frio.

Me ver como quem sabe da existência de luz e sombra, do peso e da leveza que me compõe múltipla, multifacetada.

Buscar me perder cada vez menos, nas porções misturadas, no sorriso exalado, nos julgamentos externos.

Juntar meus pedaços e remendar com barro um novo e valioso vaso alquímico.

Receber os ciclos com fluidez, descer ao caos criativo acolhendo as dores físicas e psico emocionais.

Retornar a superfície mais forte.

Acreditar tanto na  chama da vela, como no troco do tempo, o berro da noite de dentro.

Ver as imagens internas querendo dançar toda dor pra fora do peito.

Cuidar para curar, acionar a curandeira de dentro.

Perceber no corpo a magia de saber dizer.

Não querer mais calar, querer o calor, o  fogo que transmuta.

Mover-me na vida pra dentro e pra fora , com os pés firmes na terra e o Orí nas alturas.

Dançar a presença ... Caminhar o caminho

Atravessar a ponte de dentro, me guiar pela coragem/coração.

Ser um rio correndo sob as pedras na noite, sem julgar a si.

Querer muito de mim

Eu quero muito de mim.

Criar  espaços, fazer faxina interna.

Abrir-me a existência, sentindo quando é seguro o novo passo .

Recolher os pedaços deixados e me refazer, em amor e arte.

 ( S.Lima)